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A Carreira de Modelo na Era da IA

Data da Publicação: 05/03/2025

Entre o Glamour e os Desafios Tecnológicos

A indústria da moda, um universo de R$ 2,5 trilhões, sempre fascinou com seu glamour e as imagens icônicas nas passarelas e campanhas publicitárias. No Brasil, o mercado de modelos é conhecido por sua diversidade e talento. No entanto, uma nova força está transformando esse cenário rapidamente: a inteligência artificial (IA). A IA traz tanto oportunidades quanto desafios significativos para os modelos, levantando questões sobre o futuro da profissão.

Tradicionalmente, a carreira de modelo se divide em vários segmentos, como fashion (desfiles e editoriais, buscando altura e magreza, mas cada vez mais abertos à diversidade), comercial (campanhas publicitárias, mais flexível em aparência), plus size (celebrando corpos reais), infantil, beleza e PCD (Pessoas com Deficiência). Para iniciar, é fundamental ter um portfólio profissional de alta qualidade, com fotos variadas. Associar-se a uma agência confiável é crucial, pois elas representam o modelo, dão acesso a castings, negociam trabalhos e oferecem orientação. Algumas das principais agências no Brasil incluem Ford Models, Major Model, Mega Model e Way Models.

A IA começou a ser utilizada no setor, com marcas como Levi’s, Louis Vuitton e Nike firmando parcerias com empresas de modelagem com IA. Uma das motivações para as marcas é a capacidade de exibir produtos em um grupo diverso de “modelos”. Empresas de IA estão criando modelos virtuais, como Shudu, gerada digitalmente por Cameron James Wilson e inspirada em modelos reais, ou Kami, a primeira influenciadora virtual com características associadas à Síndrome de Down. Michael Musandu fundou a Lalaland.ai para criar maior representatividade na moda por meio de modelos de IA para e-commerce, pagando pessoas reais por seus dados corporais para criar esses modelos.

O custo-benefício da IA é atrativo para as empresas. Enquanto modelos humanos podem custar milhares de dólares por dia, agências oferecem o uso de modelos de IA por valores significativamente menores, como US$ 29 por mês, ou até 600 a 5.000 euros por mês, dependendo das necessidades.

No entanto, essa tecnologia cria “realidades novas e mais ameaçadoras” para os modelos humanos. O uso de “pessoas” geradas por IA levanta preocupações sobre a violação de direitos de nome e imagem. Modelos relataram ter sido solicitados a se submeter a varreduras corporais para criar modelos 3D de seus corpos ou rostos, sem saber como esses dados seriam usados e preocupados com a possibilidade de ceder seus direitos de imagem involuntariamente. A falta de transparência e responsabilidade, problemas já enfrentados pelos modelos há décadas, é agravada pela IA.

Um exemplo prático dessa ameaça ocorreu com a modelo Shereen Wu, cujo rosto foi substituído digitalmente pelo de outra mulher em um vídeo de desfile no Instagram do estilista Michael Costello, mesmo o contrato dela não mencionando alteração por IA. Wu considerou isso uma forma de o estilista se aproveitar de modelos sem a mesma influência. Mesmo marcas grandes enfrentaram críticas: a Levi’s anunciou parceria com Lalaland.ai para “complementar modelos humanos” e “aumentar o número e a diversidade”, mas recuou após indignação, afirmando que não era um substituto para ações reais de diversidade.

A inclusão e diversidade são pautas essenciais e cada vez mais cobradas pelo público e movimentos sociais no mercado de moda e audiovisual. A população com deficiência no Brasil, por exemplo, é significativa, e sua inclusão no mercado de trabalho e na sociedade é uma realidade perceptível também no audiovisual. Agências como a Angel Diversidade se especializam em representar artistas com deficiência, prestando consultoria para empresas. O mercado plus size também cresceu, buscando representar corpos reais. A ascensão de modelos sênior e a busca por talentos jovens com diferentes características também mostram o valor da diversidade humana. Críticos argumentam que usar imagens geradas por computador para simular diversidade é o oposto de uma iniciativa significativa de inclusão.

Diante desses desafios, há um crescente apelo por proteção legal. Nos EUA, o sindicato SAG-AFTRA conquistou proteções para atores sobre o uso de sua imagem após uma greve. No entanto, modelos geralmente são contratados independentes, sem proteções sindicais. A Model Alliance, organização de defesa dos modelos, tem pressionado por legislação em Nova York que exija consentimento claro por escrito para criar ou usar réplicas digitais de modelos e detalhe o escopo, propósito, pagamento e duração do uso.

Para modelos e aspirantes na era da IA, a adaptação é essencial. As agências continuam sendo o ponto de partida e oferecem orientação crucial. Elas próprias estão incorporando a IA para otimizar processos. Ter um portfólio diversificado (físico e online) que mostre versatilidade continua sendo vital. Além disso, as redes sociais se tornaram ferramentas poderosas para visibilidade e construção de imagem profissional. Modelos podem usar plataformas como Instagram e TikTok para mostrar seus trabalhos, bastidores, rotina saudável e se conectar com o mercado. No entanto, é preciso ter cuidado com a exposição de informações pessoais.

Apesar da ascensão da IA, o toque humano, a autenticidade, o carisma e a capacidade de expressão e adaptação continuam sendo qualidades valorizadas. A carreira de modelo na era da IA exige profissionalismo, disciplina, paciência e a busca contínua por aprendizado e networking. A inclusão e a diversidade humana não são apenas tendências, mas necessidades reais que as marcas precisam abraçar de forma genuína, e modelos que representam essa diversidade continuam a ter um papel fundamental. O futuro da modelagem dependerá de como a tecnologia será regulamentada e de como modelos e agências souberem equilibrar a inovação digital com a valorização insubstituível do talento e da autenticidade humana.